O dólar subia ante o real nesta segunda-feira, em linha com os mercados emergentes, à medida que os investidores voltavam a demonstrar preocupação com as promessas de tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após um impasse entre o país e a Colômbia no fim de semana quase levar a uma disputa comercial.
Às 9h44, o dólar à vista subia 0,32%, a 5,9371 reais na venda.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,62%, a 5,954 reais na venda.
Os EUA e a Colômbia evitaram por pouco uma guerra comercial no domingo, depois que a Casa Branca disse que o país sul-americano concordou em aceitar aeronaves militares com imigrantes deportados.
Trump havia ameaçado impor tarifas e sanções à Colômbia para puni-la por se recusar a aceitar voos militares que transportavam deportados como parte de sua ampla repressão à imigração.
Mas em uma declaração no final do domingo, a Casa Branca disse que a Colômbia concordou em aceitar os imigrantes e que Washington não adotará as penalidades ameaçadas.
O episódio, no entanto, sinalizou aos mercados a seriedade das promessas do presidente de impor tarifas para defender os interesses nacionais dos EUA, gerando ainda mais dúvidas sobre qual será a abordagem adotada por ele na política comercial.
Na semana passada, investidores especulavam que Trump poderia ser mais moderado do que o esperado anteriormente, depois que o presidente afirmou que preferia chegar a um acordo comercial com a China, seu principal alvo de ameaças, do que impor tarifas sobre o gigante asiático.
“O ‘alívio tarifário’ visto na semana passada foi bem-vindo, mas a imposição de tarifas provavelmente foi apenas postergada, e não cancelada. A ameaça à Colômbia reforça a imprevisibilidade de Trump e a ideia de que ainda é cedo para os mercados retomarem a busca definitiva por risco”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Com isso, o dólar avançava sobre o peso mexicano, o rand sul-africano e o peso chileno.
Movimento de fuga de risco nos mercados globais
As moedas emergentes também enfrentavam nesta manhã um movimento de fuga de risco nos mercados globais, com investidores comprando divisas consideradas seguras, como iene e franco suíço, na esteira de notícias sobre o progresso da inteligência artificial na China.
A startup chinesa DeepSeek lançou um assistente de IA gratuito que, segundo ela, usa chips de menor custo e menos dados, aparentemente desafiando uma aposta generalizada de que a IA impulsionará a demanda ao longo de uma ampla cadeia de suprimentos, de fabricantes de chips a data centers.
A notícia fazia investidores tirarem seus recursos de mercados de ações, que obtiveram fortes ganhos em 2024 com o otimismo pela IA, e de moedas mais arriscadas e apostarem em ativos seguros.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,52%, a 107,110.
Cena doméstica e expectativas econômicas
Na cena doméstica, analistas consultados pelo Banco Central passaram a ver uma taxa Selic mais alta ao fim do próximo ano, elevando também suas projeções para a inflação em 2025 e 2026, de acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta segunda.
O levantamento mostrou que a expectativa para a taxa básica de juros agora é de 12,50% ao fim do próximo ano, de 12,25% na semana anterior. Para 2025, a projeção de 15,00% foi mantida.
A Selic está atualmente em 12,25% ao ano, após o BC acelerar o aperto no mês passado ao elevar a taxa de juros em 1 ponto percentual. A autarquia também sinalizou que realizará mais dois aumentos da mesma magnitude nas duas primeiras reuniões do ano, com a próxima decisão a ser anunciada na quarta-feira.
A pesquisa mostrou ainda um aumento na projeção para a inflação neste ano e no próximo. A mediana das expectativas para o IPCA em 2025 agora é de alta de 5,50%, de 5,08% na semana anterior. Para o fim de 2026, a projeção para a inflação é de 4,22%, de 4,10% há uma semana.